´Quando você está com raiva é uma coisa, depois envelhece e fica com dor na consciência`. O autor desta frase, Elias Marques de Alencar, integrou a volante do tenente João Bezerra que atacou o bando de Lampião na Grota do Angicos, no alvorecer do dia 28 de julho de 1938. Na investida, morreram o rei do banditismo no Nordeste, a mulher dele, Maria Bonita, e mais nove cangaceiros. Na madrugada de ontem, Elias Marques faleceu aos 96 anos, no Hospital de Xingó, em Piranhas (AL), por falência múltipla dos órgãos. Tratava-se do último integrante vivo do grupo de 48 soldados alagoanos que participaram da ação comandada pelo pernambucano Bezerra. Promovido a sargento depois do ataque em Angico, Elias vivia com a família em Olho D'Água do Casado, a 270 quilômetros de Maceió. Em abril de 2008, Elias foi um dos personagens entrevistados pelo Diario na produção da série especial Na Trilha do Cangaço. Lúcido, ainda se lembrava do que aconteceu naquele início de manhã em que Lampião, o pernambucano Virgulino Ferreira da Silva, seria assassinado aos 40 anos de idade. Ele fez questão de mostrar a sua fotografia quando jovem caçador de cangaceiros. A ordem era não deixar ninguém escapar. O próprio Elias acredita ter sido o autor do disparo que feriu o cangaceiro Candeeiro, o pernambucano Manoel Dantas Loyola, que conseguiu escapar do ataque e hoje vive tranquilamente em sua terra natal, Buíque. Quando chegou à grota, Elias viu os cangaceiros já mortos. ´Fiquei com pena. E Maria Bonita não era feia`, relembrou. Ele ainda correu para pegar o bornal de uma das vítimas. ´Pensei: fiquei rico. Quando abri, só tinha ilhoses para enfeitar costuras. Quem ficou com todo o ouro foi o tenente Bezerra`. Ponto turístico, a Grota de Angicos disputada na Justiça pelos municípios sergipanos de Poço Redondo e Canindé, sendo que o último é considerado o vencedor pelo IBGE.

Fonte: Diário de Pernambuco