30 de abril de 2011

Published abril 30, 2011 by Elson Jackson with 0 comment

CADA ESTÁTUA É UM 'MILAGRE'

Foto: Antônio Vicelmo

No interior de Pernambuco, a devoção ao Padre Cícero começa cedo. No Sítio Tamboril, localizado no Município de São José do Belmonte, alunos de uma escola municipal costumam rezar ao pé da estátua do Padim, localizada ao lado de um posto de saúde. A professora Ana Lúcia Cordeiro argumenta que é uma forma de alimentar a tradição da cidade, que nasceu sob o signo de uma promessa.

São José do Belmonte teve origem na Fazenda Maniçoba onde. Em 1836, o proprietário, José Pires Ribeiro, mandou erguer uma capela a São José como pagamento de uma promessa para que uma epidemia de cólera que atingiu o sertão não afetasse aquela propriedade.

A crença vem acompanhada de outro acontecimento místico. É a festa da "Pedra do Reino" que relembra o movimento sebastianista liderado por João Antônio dos Santos, em 1838, na Pedra Bonita (uma composição de duas grandes rochas, uma com 30 e outra com 33 metros de altura), na Serra do Catolé, nome antigo da colina do Horto em Juazeiro.

No local, o autoproclamado rei João Antônio formou uma comunidade de fiéis seguidores, prometendo um reino de justiça, liberdade e prosperidade, onde os pobres ficariam ricos e até os pretos renasceriam brancos. O símbolo desse reinado está no centro da cidade, onde foi construído um castelo baseado no Movimento Armorial criado em 1970, por um grupo de artistas e intelectuais pernambucanos, liderados pelo escritor Ariano Suassuna.

A devoção ao Padre Cícero, de acordo com a professora, cresceu dentro desse contexto messiânico. Ao longo das estradas pernambucanas foram erguidas estátuas do Padre Cícero como símbolos da fé romeira. É o caso da agricultora Maria Helena das Graças, que ergueu um monumento no terreiro de sua casa para pagar uma promessa.

A filha, Maria das Graças de Souza, conta que, ao "quebrar uma dieta", depois de um parto, a mãe apresentou problemas mentais. "A alternativa foi se valer do meu Padim, que curou minha mãe". Depois disso, ela retribuiu a graça, instalando a estátua. Ela veste preto todo dia 20, data da morte do Padre Cícero, e vai a Juazeiro duas vezes por ano com a família.

Maria das Graças relaciona um rosário de "milagres" atribuídos ao Padre Cícero. Um deles, segundo afirma, aconteceu com o seu marido Francinaldo, que estava na iminência de perder uma perna em consequência de um acidente, quando quebrava pedras em Salgueiro. "O Padre Cícero evitou que a perna dele fosse amputada. Em retribuição, ele levou uma perna de pau para ser depositada na Casa dos Milagres em Juazeiro".

Histórias como estas se espalham pelo Nordeste na boca dos cantadores de violas, cordelistas e devotos. Para os romeiros, o Padre Cícero continua sendo o conselheiro, o médico, o que cura todos os males. Numa região desprovida de assistência, onde o abastecimento d´água ainda depende do carro-pipa, a esperança de um milagre é a única expectativa. Fonte: Diário do Nordeste

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